Lígia casa-se por interesse com um rico comerciante que fez fortuna no Brasil, um homem bastante mais velho do que ela. Respeita-o, mas não o ama. Quando fica viúva, aos 32 anos de idade, regressa a Portugal e perde-se de amores por Leonel, que conhecera de criança, quando era ainda um jovem tímido e efeminado, mas que agora crescera para se tornar num esbelto e elegante cavalheiro que fazia suspirar as donzelas da capital. Leonel, no entanto, estava apaixonado por Liberato, um homem rude e façanhudo, de farto bigode, que o gostava de ver vestido de dama fina.
Fernando Curopos, o autor da indispensável Introdução que acompanha e enriquece a 2.ª reedição deste romance de 1906, considera que "Gallis antecipa a questão da disforia de género e da potencialidade erótica-identitária do travestismo, como também é precursor dos romances que vertem sobre a «feminização», subgénero da literatura pornográfica que emerge a partir da primeira década do século XX em França, a condizer tanto com a realidade do travestismo nas comunidades homossexuais das grandes capitais europeias, inclusive em Lisboa, quanto com a sua respetiva divulgação e teorização na «scientia sexualis»."