Desnovelo é um livro que pergunta. Por que esconder de uma filha as suas origens? Por que privar uma criança das suas verdades, das histórias que a antecederam, que fazem dela quem ela é? E se tivesse sido de outro jeito? Questiona-se Renata, a narradora protagonista, logo nas primeiras páginas. É também no início que ela nos diz que, como um relógio, sente que está dando voltas e "passando pelos mesmos lugares tantas e tantas vezes."
Assim, temos duas marcas da jornada transformadora contada aqui. A primeira é ser uma história que se move pelas interrogações, perguntas que se repetem, mas nunca são as mesmas: elas se aprofundam à medida que o enredo caminha. A outra é tratar de um tema essencial - o da busca da narradora por sua origem - e revisitá-lo múltiplas vezes, ora com mais ora com menos luz, como os ponteiros sobre as horas do dia.
Puxando uma linha aqui, outra ali, acompanhamos Renata: investigamos, descobrimos, crescemos, nos encantamos e nos desiludimos ao lado dela. Principalmente, avançamos com essa protagonista corajosa, que imagina a própria história, mas, jornalista que é, não se contenta somente com isso: quer os fatos.
E, nessa caminhada, acaba indo além. Mais do que achar respostas, somos provocados a refletir sobre as próprias perguntas, sobre como conviver com elas. Com a protagonista, sabemos de novo e de novo: para seguir em frente é preciso deixar algo para trás. Aceitar o sol, mas também a sombra. Ao terminar este livro, como Renata, já não estamos no mesmo lugar.