Das dezenas de livros que escrevi, minha antologia poética é o que realmente me traduz. É a minha fotografia falada; a minha radiografia espiritual com os sentimentos e desejos revelados, com a esperança de um dia ver o mundo mais gentil para os humanos, os animais e os vegetais. Vasculhei todo o apartamento, caixas, gavetas e até mesmo velhos depósitos com bugigangas, à procura de poemas ou textos relegados ao esquecimento. Creio que a grande maioria se perdeu por estar escrita em papel inadequado, em capas de livros, nas paredes, na areia. Como eles são de todas as idades pelas quais passei, alguns são suavemente ingênuos, outros bastante maduros, terceiros timidamente eróticos e alguns, confesso, surpreendentes. Nesses textos se encontram toda a minha gratidão pela vida, a minha fé na espiritualidade, a beleza recolhida em conta gotas e às vezes em jorros abundantes quais cachoeiras banhando-me a alma. A poesia ajudou-me a viver, tem sido minha companheira por décadas. Se não olhasse o cotidiano por seus olhos já teria enlouquecido ou desencarnado. Dos muitos livros que escrevi, quero ser lembrado por este, o mais simples. Em cada página dele estou desperto, valente, mas dócil, mais índio que branco, como sempre fui. Que a poesia nunca me abandone, que seja minha segunda pele como as penas de águia. E que Deus seja louvado sempre.