Em Confissões de um vira-lata, o consagrado escritor Orígenes Lessa, de forma dinâmica e bem-humorada, cria uma história em que o comportamento humano, visto sob a perspectiva de um cachorro, é avaliado. Por isso a narrativa, em primeira pessoa, tem como narrador-personagem um cão inteligente, crítico e perspicaz, de doze a quatorze anos, crescido nas ruas, sem nome e sem dono. Ao contar suas aventuras e desventuras e expor seus sentimentos, desejos e emoções - solidão, amor, solidariedade, afeto, entre outros -, fica constantemente indignado com atitude e ações dos homens em relação ao próprio homem e aos animais. Essa mania de chamar de cachorro ao que há de pior no mundo humano foi sempre, para mim, um osso no gogó. Há cães que não ligam. Ouvem com indiferença o baixo insulto. Outros, infelizmente "comprados" pelo íntimo convívio com os homens, preferem não reagir. Acham mais negócio manter boas relações com exemplares dessa raça que lhes asseguram restos de comida e outras concessões que nos aviltam