Havia uma senhora do Amarante
Que fez um livro interessante:
Dirce Waltrick, tradutora de limerique,
Essa amável senhora do Amarante.
Este livro da ensaísta, tradutora e dramaturga Dirce Waltrick do Amarante discute aspectos nada óbvios da literatura infantojuvenil. A autora visita - com um olhar apaixonado, de quem tem "fé" na leitura e fulmina certas instituições promotoras do emburrecimento do jovem leitor - casos concretos como a adaptação da obra dos irmãos Grimm para quadrinhos, o teatro infantil, a censura a Monteiro Lobato, o nonsense do escritor, desenhista e pintor inglês Edward Lear e as suas diferenças para com o nonsense de Lewis Carroll, o texto de James Joyce "O gato de Copenhague", as posições de Ana Maria Machado e de Marcelo Coelho, que a ajudam a refletir sobre a tradição cultural, a lógica, a linguagem, a utilidade da literatura e as suas relações com a educação.
É de Graciliano Ramos, contudo, que vem a melhor evocação das leituras "edificantes" da infância, nas que um menino vadio encontra casualmente no seu caminho uns passarinhos-mensageiros dos valores do sistema... A partir do aspecto "monumental" da obra para crianças de Monteiro Lobato, a questão surge, e atinge um nível geral - a quem se destina este monumento, e o que fazer com ele? A questão é ampla, pois a infância mudou, e talvez nem exista mais, a não ser em estado de ruptura da ordem simbólica, como na visão apocalíptica de Baudrillard. As notas teóricas da autora, em diálogo com pensadores dentre os quais Agamben, Adorno e Horkheimer, Benjamin, além do próprio Baudrillard, conferem ao livro uma potência de pensamento sobre uma questão que excede a da infância, ou melhor, que nos puxa para a infância que nunca nos deixou, se, como propõe Agamben, a infância seria "aquilo que chamamos de pensamento".
- Paula Glenadel