Neste ensaio convocam-se as categorias propostas em Cheryl I. Harris, «A Branquitude como Propriedade» para ler a realidade israelense, salientando-se que o valor atribuído à nacionalidade judaica não é simplesmente uma questão de judeu versus não-judeu. Com efeito, a branquitude reflete uma ordem europeia que reproduz e incorpora as ideias orientalistas e a lógica de exclusão na base do anti-semitismo europeu. O Estado de Israel continua a aplicar estas ideias aos mizrahim, judeus do Médio Oriente. Os mizrahim são o objeto do projeto de modernização do sionismo, que, por um lado, exige uma violenta bifurcação da sua identidade árabe e judaica e, por outro, os marginaliza por não apresentarem conformidade com a matriz europeia adoptada.
Consolidada a mitologia de etno-nacionalidade baseada na experiência do cidadão judeu europeu, o projeto de construção da nação exclui completamente o palestino que, como o judeu oriental, é considerado «incivilizado». Mas, ao contrário do mizrahi, o palestino não é elegível para reabilitação - deve ser removido, diminuído e contido, geográfica, política e socialmente. A lei facilita esse processo ao despojar e deslocar o palestino e, simultaneamente, dá à nacionalidade judaica um valor cobiçado, que espelha os ideais do Iluminismo europeu de civilização e reflete a superioridade da branquitude. A descolonização é necessária para a autodeterminação palestina, porém, ela permite ainda mais potenciar a emancipação judaica para além do Estado.