No imediato rescaldo do ataque perpetrado pelo Hamas em 7.10.223, o historiador Ilan Pappe contextualiza os acontecimentos que durante semanas o antecederam, o movimento de protesto contra o projeto governamental de reconfiguração do sistema judicial de Israel. Nestes protestos a discussão sobre a Ocupação dos Territórios Palestinos - Faixa de Gaza e Cisjordânia - era tema considerado como resolvido ou, com efeito, proscrito. Qualquer tentativa para se falar da Palestina ou da violência continuada sobre os palestinos era sumariamente silenciada. O único problema era a reforma judicial, num país dividido entre duas concepções de apartheid: uma secular, à maneira das democracias ocidentais; a outra messiânica, religiosa e autocrática - de ambas, estando definitivamente excluídos os palestinos.
Contra esta percepção comum em Israel, o autor vem contestar décadas de propaganda, de narrativas e falsidades, a partir das quais se tem de-historicizado e descontextualizado a causa palestina e a sua luta anti-colonialista. A sua crítica incide, em primeiro lugar, sobre a natureza ideológica e racista do movimento sionista, que está na génese do Estado de Israel. Neste sentido, procura distinguir a natureza dos legítimos movimentos de auto-determinação e libertação nacional de qualquer genealogia etnoracial, a partir da qual se mobiliza o programa colonialista de aparthied, de ocupação e eliminação-expulsão dos autóctones. Em segundo lugar, procura sublinhar a longa duração da história palestina que fundamenta a sua legítima luta pelo direito a viver independente, democrática e livre no seu território. Quando estas condições sejam cumpridas a Palestina viverá em paz.