No rescaldo da ofensiva militar que em 2008-09 Israel lançou sobre Gaza, a Operação Chumbo Fundido, foi solicitada ao porta-voz das Forças Armadas de Israel uma reação a depoimentos da ONG Breaking the Silence dando conta de abusos cometidos durante esta guerra. O Tenente Coronel Avital Leibovitz respondeu dizendo que embora as Forças Armadas de Israel continuassem a operar de acordo com «valores éticos intransigentes», estavam prontas para investigar alegações de má conduta, mas não com base em depoimentos anónimos dos quais não tinha certeza se eram de soldados, assim lançando uma onda de suspeição sobre a ação desta ONG que vem recolhendo testemunhos de soldados israelenses proporcionando um olhar frio, desassombrado e sobretudo real do trato de Israel em relação aos palestinos.
A suspeição lançada quanto à seriedade das testemunhas e dos Breaking the Silence, impeliu o fotógrafo a recolher os retratos dos soldados e seus depoimentos quanto ao serviço militar prestado e ao que os impeliu a testemunhar. Através destas fotografias e dos depoimentos, o autor procura o encontro do olhar dos retratados com o da sociedade em nome da qual se tornaram agentes da ocupação, para obter uma visão real do que foram e do que agora são. A démarche de Quique Kierszenbaum não é tanto estética quanto sobretudo dialogante e política. Os retratos silenciosos constituem um corte transversal da sociedade israelense, pessoas como o fotógrafo, o seu vizinho, amigo ou o moço do supermercado. A estes contrapõe-se a declaração de culpa dos abusos cometidos durante a prestação do serviço militar obrigatório na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e da situação de subjugação e de poder arbitrário perpetrado sobre o povo palestino. A aparência do retrato é indissociável da denúncia e da admissão de culpa, que por esta razão não é mais justificada ou perdoada. Mas entretanto aqueles que optaram por mostrar a cara tornam-se nos «traidores» de um poder discricionário, as suas vozes adquirem o potencial de transformar a consciência, tornam-se numa alavanca de esperança para mudar um regime de permanente agressão.